Tempo seco estimula animais silvestres a saírem do seu habitat

Em seis meses, mais de 1,5 mil animais já foram capturados em área urbana e devolvidos à natureza

RAFAEL SECUNHO, DA AGÊNCIA BRASÍLIA | EDIÇÃO: ROSUALDO RODRIGUES
Nesta época de seca, é comum ver saruês andando pelas casas em busca de alimento | Foto: Divulgação BPMA

Faz parte do dia a dia do Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) o resgate permanente de animais silvestres por todo o Distrito Federal. Espécies que deixam seus habitats naturais e são encontrados em áreas residenciais e comerciais a todo momento. Entre janeiro e julho deste ano, já foram mais de 1.500 animais ‘salvos’. Cobras, macacos, capivaras, aves variadas e saruês são os mais comuns. (Veja o quadro)

A equipe de militares, depois de acionada pela população, vai ao local com equipamentos como gaiolas, pinças de aço e redes. O objetivo é preservar o animal e devolvê-lo à natureza. “Olhamos o animal e avaliamos o estado físico dele. Normalmente, está muito arisco diante da situação”, explica o comandante do BPMA, coronel Fábio Pereira.

“A expansão urbana no DF gerou a ocupação de áreas que originalmente eram dos bichos. Isso impacta a vegetação nativa e prejudica os animais”Victor Santos, diretor de Fiscalização de Fauna do Brasília Ambiental

“Se não tem qualquer lesão, ele logo é reintroduzido ao habitat natural. Se está lesionado, encaminhamos ao zoológico para recuperação. É um grande parceiro nosso”, complementa. Pereira lembra que no caso de tráfico de animais, os infratores respondem pelo crime e os bichos são encaminhados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), órgão do Ibama.

“Nesta época de seca, é muito comum ver saruês andando pelas casas em busca de alimento. Ou macacos-prego que comem frutas em árvores perto do batalhão, na Candangolândia”, lembra o policial. No mês passado, um ouriço-cacheiro (tipo de porco-espinho) foi visto numa rua de Taguatinga sendo ‘atacado’ por um cão. “Os bichos usualmente vêm até a área urbana atrás de abrigo, alimento ou para a proliferação da espécie”, observa Pereira.

No primeiro semestre, 1.581 animais foram resgatados no DF

Ao encontrar um animal silvestre, a polícia ambiental recomenda alguns cuidados, como, por exemplo, afastar os bichos domésticos. “Cães e gatos devem ser trancados, pois tendem a brigar com ele”, recomenda o comandante do batalhão. “Além de, é claro, não se aproximar. Não se sabe se o animal é peçonhento e ele pode vir a atacar”, finaliza.

Quem encontrar algum animal silvestre fora de seu habitat natural deve acionar o BPMA pelo telefone 190. O serviço funciona durante 24 horas diariamente.

Expansão urbana

Na avaliação do Brasília Ambiental, esse movimento dos animais silvestres para locais habitados é crescente e explicado, principalmente, pela ocupação desordenada do solo. “A expansão urbana aqui no DF gerou a ocupação de áreas que originalmente eram dos bichos. Isso gera impacto na vegetação nativa e prejudica muito os animais”, pontua o diretor de Fiscalização de Fauna do instituto, Victor Santos.

O ambientalista reforça que as “cidades verdes” permitem uma convivência mais harmônica entre o ser humano e o animal. E, segundo Victor, o trabalho é o de preservá-las. “É necessário coordenar melhor esse tipo de ocupação. Monitoramos as áreas de preservação e órgãos de fiscalização, como o DF Legal, têm o papel de retirar ocupações irregulares em locais não permitidos”, lembra.