STF autoriza prisão domiciliar de Andreson Gonçalves, investigado por suposta venda de decisões judiciais

Lobista estava preso desde novembro de 2024. Atuação na Fazenda Vitória do Araguaia, em Porto Alegre do Norte-MT, põe estruturas da Justiça em xeque

 

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cristiano Zanin decidiu pela concessão da prisão domiciliar ao lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, alvo da Operação Sisamnes, deflagrada pela Polícia Federal (PF). Andreson estava preso desde novembro de 2024, suspeito de liderar um esquema que envolvia o pagamento de assessores para influenciar decisões no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Seus tentáculos atingem também, em cheio, a Fazenda Vitória do Araguaia, em Porto Alegre do Norte-MT, onde uma reintegração de posse em seu favor engrossa ainda mais o caldo sobre as suspeitas de vendas de decisões judiciais.

A defesa do lobista destacou que a saúde de Andreson se deteriorou significativamente durante os oito meses de detenção. Um laudo médico apontou gravidade, o que levou o ministro Zanin a autorizar a transferên­cia para prisão domiciliar, medida respaldada por parecer favorável do procurador-geral da República, Paulo Gonet.

Andreson deverá permanecer em sua residência em Primavera do Leste (MT), e estará monitorado por tornozeleira eletrônica. Uma avaliação médica regular será realizada para garantir a adequação das condições de saúde e segurança.

Origens da investigação

A investigação teve início em dezembro de 2023, após o assassinato do advogado Roberto Zampieri. A análise do celular dele revelou trocas de mensagens envolvendo desembargadores de Mato Grosso e um lobista de Brasília com suposto acesso ao STJ. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) identificou indícios de pagamentos por decisões judiciais e o compartilhamento de rascunhos de sentenças antes de sua publicação.

Com as evidências em mãos, a PF deflagrou a “Operação Sisamnes”, prendendo Andreson como peça central no esquema. Durante o inquérito, foram identificadas transferências bancárias de cerca de R$ 4 milhões, provenientes de empresas ligadas a ele, destinados a um servidor do STJ que havia trabalhado em gabinetes de duas ministras.

Estado atual da apuração

O inquérito sobre os assessores do STJ está na fase final. A nova fase do caso, com o gradu­al afrouxamento das medidas restritivas contra o lobista, reabre o debate sobre a influência de agentes externos nos tribunais superiores.

Enquanto as investigações prosseguem, permanecem as perguntas: havia ou não envolvimento direto de magistrados? E quais serão os próximos passos da PF e do CNJ? As decisões pendentes e eventuais delações podem lançar luz definitiva sobre essa rede de suspeitas.

Por que Sisamnes

Sisamnes foi um juiz corrupto da Antiguidade persa, flautado por aceitar suborno. O nome foi usado como referência simbólica pela Polícia Federal, que investiga supostas vendas de decisões no STJ. No Brasil, o caso expôs fragilidades no entorno institucional da Justiça brasileira, revelando relações promíscuas entre lobistas, empresários, servidores e, possivelmente, membros do Judiciário.

Do AgroNews