Músico brasileiro quer resgatar tradição musical com órgão de tubos

Gaúcho que dedica a vida a um dos instrumentos mais antigos, complexos e fascinantes da história da música se tornou professor nos EUA e agora quer facilitar acesso e aprendizado por meio digital

Um instrumento com mais de 400 anos de história, característico da igreja católica mas também muito presente nas trilhas sonoras e efeitos musicais de filmes de Hollywood tem como um de seus principais profissionais e entusiastas um brasileiro. Natural de Ibiraiaras (RS), Rudimar Bonamigo é hoje um dos músicos e técnicos mais especializados no instrumento, com formação que passa pela Alemanha, França e Estados Unidos, onde é atualmente professor de piano e órgão, e doutorando em Música e Performance de Órgão.

A curiosidade por um dos maiores e mais poderosos instrumentos musicais que já existiu na humanidade começou na infância, aos 12 anos, em um colégio de internos católicos. “Neste colégio recebi toda a iniciação em música e cursei meu ensino médio no magistério, o que me define também como alguém que pensa em educação constantemente”, conta.

O encanto pelos timbres graves e pela complexidade do instrumento levaram Rudimar a estudar música e também se tornar professor. Em Porto Alegre, onde se formou em Música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 2010, lecionou piano e órgão de tubos por vários anos em diversas igrejas da cidade, com destaque para participações em recitais e em grandes eventos.

“Esse cenário me levou até o trabalho na capela do Colégio Anchieta, que é uma das mais renomadas escolas privadas do Estado, essa capela encontra-se um dos pouquíssimos órgão de tubos que possui alguns registros construídos com bambus.”, lembra.

Instrumento-Orquestra


Por possuir teclados e pedaleiras, exigindo o toque das mãos e dos pés simultaneamente, o músico afirma que o principal diferencial do órgão de tubos é trabalhar como uma orquestra. O domínio do instrumento rendeu a ele diversas apresentações emblemáticas ao longo de sua carreira, inclusive, utilizando o órgão histórico (instalado em 1711) da Capela Real do Castelo de Versalhes (França), em 2014.

No Brasil, o auge foi uma apresentação no maior órgão de tubos do Estado do Rio Grande do Sul, em 2004, durante a inauguração da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). No ano seguinte, após passagem pela Alemanha para estudos, retornou a instituição como o principal organista e responsável pelo instrumento.

Escassez profissional

Hoje, aos 45 anos, Rudimar dedica sua carreira ao resgate e popularização do órgão de tubos, que pode até atingir o tamanho de uma casa de três andares e possuir mais de cinco mil tubos, feitos de madeira ou metal. De acordo com ele, alguns desafios são a falta de acesso e o alto custo de manutenção do instrumento, que exigem o trabalho conjunto de um organista, um arquiteto e um organeiro — especialista responsável pela construção do instrumento.

Rudimar conclui atualmente doutorando na Universidade do Norte do Texas (EUA) onde há oito anos se dedica à pesquisas técnicas de articulação que possam aproximar pianistas do instrumento. Um artigo assinado pelo brasileiro chegou a ser publicado por veículos especializados, abrindo as portas, também, para convites de emprego naquele país.

“Este é um projeto que desenvolvo com um programador e nossa ideia é fornecer dados para que seja possível criar um software que possa ser uma ferramenta didática para ajudar pianistas que querem se tornar organistas. É evidente a escassez de organista nos EUA e no mundo, e por serem instrumentos caros e de difícil acesso eu pretendo criar uma ferramenta pedagógica que possa possibilitar atrair mais organistas e, assim, manter essa arte viva.”, comenta Rudimar Bonamigo.

Na mesma universidade, ele desenvolve sua carreira acadêmica e de educador, lecionando aulas de teclado para as turmas de graduação e de órgão para alunos de graduação e pós-graduação. Além disso, também se apresenta com corais e orquestra em recitais e cerimônias, passando ainda por diversas igrejas na região de Dallas como organista concertista e diretor de música.

É também nos Estados Unidos onde está localizado o maior órgão de tubos do mundo, no Historic Boardwalk Hall em Atlantic City, Nova Jersey. Conhecido por Órgão Midmer-Losh, o instrumento possui oficialmente mais de 33 mil tubos.

“Meu sonho é manter essa tradição viva, ajudar meu país e facilitar o acesso de todos ao órgão.”, promete. “O primeiro passo é aproximar crianças e jovens. O órgão une música, física e história. É uma tradição que não pode desaparecer”, defende.

 

Fotos: Arquivo pessoal de Rudimar Bonamigo