Criação de unidade de conservação próxima ao Complexo da Papuda poderá por fim há quase uma década de disputas judiciais
Tramita na Câmara Legislativa do Distrito Federal o projeto de lei 983/2020, que cria o Parque Ecológico Mangueiral na Região Administrativa do Jardim Botânico. A iniciativa é do deputado distrital João Cardoso (Avante), que é auditor fiscal do Instituto Brasília Ambiental (Ibram). Associação de moradores está otimista e relembra as principais lutas em defesa do parque.
De acordo com João Cardoso, que tem como uma de suas principais bandeiras a preservação do meio ambiente, o objetivo da proposta é não só contribuir com a recuperação e a proteção da fauna e flora do local, mas garantir a ligação entre áreas protegidas na forma de corredor ecológico entre a bacia do Lago Paranoá e a bacia do Rio São Bartolomeu, que são fontes de recursos hídricos essenciais para abastecer todo o DF. A área inclui diversas nascentes do Córrego Bora Manso.
“É imprescindível que a área em questão seja mantida preservada e livre da impermeabilização uma vez que poderá comprometer a recarga do aquífero da cidade de São Sebastião, onde a CAESB já manifestou que o sistema de São Sebastião é um dos mais vulneráveis do DF, devido ao aumento do consumo, bem como aos problemas de funcionamento dos poços.”, afirma João Cardoso, que promoveu uma audiência pública no Jardins Mangueiral em 2019 para discutir esta e outras reivindicações da comunidade.
A poligonal deverá abranger uma área de aproximadamente 400 hectares, que vai do balão de confluência da DF-001 (Estrada Parque Contorno – EPCT) com a DF-465, até as instalações do Complexo da Papuda. Pela margem direita, irá contornar a área de segurança do Centro de Detenção Provisória até a junção com o Ribeirão Santo Antônio da Papuda. Deste ponto, a poligonal do parque segue pela margem esquerda do Córrego Bora Manso e depois em direção aos limites do Setor Habitacional Bonsucesso e o Setor Habitacional Mangueiral. Haverá ainda um espaço livre entre os lotes QC 08/09 e QC 10/11 até a junção com a DF-001, onde a poligonal se completa na confluência com a DF-465.
Conquista histórica
O presidente da Associação dos Moradores do Jardins Mangueiral (AMOR-JM), Guilherme Carvalho, acredita na aprovação do projeto e classifica como “histórica” a conquista que irá beneficiar cerca de 30 mil moradores do bairro. De acordo com a entidade, a região carece de equipamentos públicos desde a sua fundação (2010), como escolas e delegacias, por exemplo.
“É imprescindível os deputados apoiarem essa causa que há anos se arrasta. É fundamental protegermos esse parque que, além de preservar o meio ambiente, vai contribuir com mais segurança entre o bairro e os presídios, já que por motivos de segurança nacional não é mais possível construções próximas aos muros dos presídios.”, avalia.
“Este será o primeiro equipamento público mais aberto à população que vai se somar ao Centro de Práticas Sustentáveis, que já está em funcionamento. Será uma área de encontro e lazer, principalmente pós-pandemia. Vai ser muito importante para a população, pois o parque já funciona, tem trilhas e já sediou várias atividades, como festas de Dia das Crianças e treinões gratuitos.”, acrescenta Guilherme.
Segundo a associação, foram muitas as dificuldades enfrentadas pelos moradores na defesa da área verde, que poderá finalmente se tornar um parque ecológico. A entidade aponta como principais fatores a má vontade política dos últimos governos e a forte especulação imobiliária na região.
Um movimento comunitário denominado Coletivo Mangueiral, que deu origem à associação AMOR-JM, foi criado há quase dez anos para barrar novas construções e reivindicar a criação do parque, que constava, até então, apenas nos materiais publicitários de empreiteiras. A discussão da ocupação ocorre desde 2013. Guilherme conta que em 2014, os moradores chegaram a acampar na mata para impedir novas construções. Em 2016, o Ministério Público deu parecer contrário à expansão pela importância da área verde na recarga de aquífero e ameaça de impermeabilização do solo, podendo agravar a crise hídrica no DF.